Foram 100 dias, 43 soluções implementadas por 2 gestoras de mandatos e suas equipes, em 26 gabinetes parlamentares (25 de primeira viagem) de 15 siglas partidárias diferentes e de todos os cantos do Brasil. Há quem ainda diga que servidor/administrador público não trabalha, e que o ano só começa depois do carnaval (risos).
O rol distinto de mandatos que trabalhamos em um curto período de tempo, nos possibilitou aprofundarmos ainda mais o entendimento dos principais desafios inerentes a qualquer mandato. Quando todos nós pensamos em Legislativo, o grande obstáculo que vem à mente são as eleições, como se depois não houvesse um mundo novo que as equipes começam a explorar no dia 1º de janeiro de cada ano pós eleições.
Independentemente do parlamentar ter direito a contratar somente uma pessoa ou 26 para o seu gabinete, perguntas clássicas surgem: “Como montar e gerir a equipe ideal?” “Como transformar de fato as promessas de campanha em políticas públicas efetivas?” “Como pautar o ambiente em que faço parte, e não só reagir ao que os outros grupos políticos pautam?” “Como construir rotinas produtivas?”.
Em todos os 25 mandatos de primeira viagem, começamos os trabalhos acelerando as suas curvas de aprendizagem e reduzindo o tempo em que eles passariam buscando essas respostas. Porque buscá-las no dia a dia acaba invariavelmente acontecendo de forma mais lenta e gradual. E como gostamos de enfatizar: no Legislativo, cada dia que passa é um dia a menos para o mandato entregar seus sonhos para a cidade/estado em que foi eleito. O senso de urgência, prazo e ansiedade para que tudo na equipe esteja funcional é intenso, e muitas vezes tivemos que correr contra o tempo para garantir que todos estes 25 mandatos conseguissem estar preparados para o ano que estava por vir.
Acho que quando falamos de novas vereanças, o maior desafio é provar que montar a equipe ideal não é tão fácil quanto parece, e que um tempo precioso deve ser investido nisso. Equipes que são montadas com pessoas de confiança ou que participaram do projeto desde a campanha, também precisam de um olhar atento para que os papéis sejam bem definidos e as expectativas estejam alinhadas desde o dia 1 do mandato. Mas sim, sabemos que a motivação para o ano legislativo começar ainda é grande!
Percebemos então que os mandatos passam por três grandes momentos. Após a euforia inicial existente até as equipes estarem completas, começa o primeiro deles: o período de adaptação. Nesse momento, os novos profissionais e os que já integravam o time aprendem a trabalhar juntos, e resolver as demandas do gabinete que começam a aparecer. É hora de elaborar aqueles projetos de lei que estão na cabeça do parlamentar desde sempre, pensar na identidade visual e em formas de continuar próximo dos eleitores, montar os planos de fiscalização (começando por quem e por onde?), e entender o funcionamento da Casa Legislativa. Ao mesmo tempo, o parlamentar e a chefia de gabinete já estão apreensivos para montar a estratégia política. O desafio nessa hora é fazer com que todos olhem para o mesmo lugar e tenham as mesmas percepções de conquistas para o mandato.
Ao contrário do que muitos pensam, início de mandato não é momento de mostrar trabalho executando os mil projetos que estavam no papel. A vontade de entregar é tanta, que alguns mandatos cometem o erro de achar que tudo é prioridade, urgente e deve ser feito nos primeiros meses. Os projetos só serão concluídos com êxito se existir um planejamento por trás, objetivos traçados, responsáveis e uma priorização conforme o timing político daquela casa. Mas esses mesmos mandatos só vão perceber mais tarde que a falta de planejamento atinge diretamente o desempenho da equipe, que vai querer abraçar o mundo e, com os dias tendo apenas 24 horas, não vai conseguir. Então deixo aqui a seguinte premissa: quem quer fazer tudo, acaba não fazendo nada.
Sentimentos de frustração costumam aparecer sempre que isso acontece. É um choque de realidade que surge junto com os primeiros embates com os pares ou prefeitura, projetos rejeitados, articulações custosas, ficar de fora daquela comissão esperada, críticas na mídia, feedback negativo recebido, entre outros. É aquele velho ditado que “a primeira vez a gente nunca esquece”. Mas a verdade é que mais cedo ou mais tarde os mandatos passam por esse momento mais desanimador que o anterior. A notícia boa é que com gestão de pessoas e estratégia, pequenas crises internas ou desentendimentos entre equipes e parlamentares acabam sendo resolvidas logo.
Até que chegamos no terceiro momento, onde as coisas estão mais calmas e a equipe já sabe lidar com a rotina, pressão e estilo de liderança dos seus gestores. Os 100 dias se aproximam e todos percebem que em pouco tempo já tiveram algumas conquistas importantes, que foram sonhadas há muito tempo pelos seus parlamentares. Às vezes com a rotina exaustiva, é mais natural reclamar o que dá errado do que comemorar o que deu certo, por isso sou particularmente fã desse marco.
Do nosso lado, é incrível acompanhar tudo o que aconteceu em cada um dos 25 mandatos de primeira viagem nesse meio tempo. Alguns continuam sendo acelerados por nós, e vemos um amadurecimento gigantesco comparado a quando entramos. Outros já caminham com as próprias pernas, e às vezes retornam para consultas pontuais ou compartilhamento de dores e conquistas vivenciadas.
Acho que de tudo nesses 100 dias, o que mais me marca é ver como uma equipe técnica alinhada, com estratégia consolidada e pessoas pensando nas rotinas e processos de melhoria interna desde o início, fazem o caminho para a construção de um mandato potente ser ainda mais possível para parlamentares de primeira viagem. Essa é uma daquelas conclusões que deixam o nosso coração quentinho, por provar que a democracia sempre se fortalece com boas práticas na política. Ah, e por confirmar que estamos todos no caminho certo!